domingo, 21 de março de 2010

Unidade Linguística no Brasil

UNIDADE LINGUÍSTICA NO BRASIL: REALIDADE OU MITIFICAÇÃO?




Apregoa-se, na contemporaneidade dos estudos relativos à Língua Portuguesa, que esta não possui uma unidade em toda a extensão geográfica do país do futebol. Ou seja, canta-se o Hino Nacional Brasileiro em todos os municípios da federação, mas não se sabe quem é o sujeito, nem onde se encontram o predicado e os demais complementos das frases parnasianas da letra deste símbolo pátrio.

A suposta inexistência da unidade lingüística nacional implica falta de comunicação e entendimento entre pessoas de diferentes regiões do país e de diferentes classes sociais, uma vez que o português correto, a norma-padrão da Língua Portuguesa, pertence à elite urbana e a uns poucos literatos que se auto-proclamam os donos do saber. Essa falta de unidade embasa-se em argumentos que lhe imputam mitificação devido à existência de diversas línguas indígenas, dos diferentes idiomas trazidos pelos imigrantes que aqui aportaram de todo o mundo, e das inúmeras variedades da língua portuguesa, cada uma dessas com características próprias e diferenças no status social do seu falante; trocando em miúdos: é como se cada pessoa falasse uma língua só dela.

No entanto, não é isso que se constata na realidade comunicativa do Brasil, que é o objetivo maior da nossa língua, pois em quase 100% dos lares existe em televisor e/ou um rádio AM – FM, no mínimo; em quase 100% dos lares existe uma Bíblia Sagrada, mormente a versão João Ferreira de Almeida; pela TV o povo assiste a jogos que se iniciam com o belo hino, a novelas, a noticiários, todos programas de alcance nacional, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, do Paraná ao Acre, etc. Quanto à pobre Bíblia, possui poucos leitores devido à cultura da maioria dos religiosos brasileiros, deveria ser mais lida, inclusive pelos profissionais da fé, pois constitui um dos pilares da Língua e da Literatura. Devido a esses elementos difusores da Língua Portuguesa, presentes na quase totalidade dos lares brasileiros, é que se argumenta existir, sim, uma unidade lingüística no Brasil. Por isso é possível a um capixaba entender um livro de Moacir Scliar, que é gaúcho; um processo jurídico escrito no norte paranaense, pé vermelho, ir à capital do leite quente para após ir a Porto Alegre e depois rumar a Brasília, aquele amálgama faraônico de concreto, raças e leis; é devido à unidade lingüística que os mais diversos livros do mundo todo podem ser traduzidos para o português e serem lidos em todas as regiões do Brasil. Enfim, jornalistas, repórteres, escritores, tradutores e evangelistas, e não apenas professores de português, trabalham diuturnamente no intuito de firmar uma unidade linguística no Brasil. Um grande exemplo é o escritor José de Alencar, um dos poucos escritores que possuía um projeto de país através de sua literatura integralizante.

É sabido que se lê pouco no país, fato alarmante, contabilizado por aproximadamente 15% de analfabetos, cujo montante aumenta assustadoramente quando somado às fileiras dos analfabetos funcionais. Entretanto, os analfabetos assistem a programas de TV e ouvem discursos em sua língua pátria e os entendem perfeitamente. Como isso é possível? Devido à gramática intrínseca que toda linguagem humana possui. Se essas pessoas não possuem noções de gramática normativa, aquela coisa chata de análise sintática, etc., sabem as regras gramaticais intrínsecas como que por intuição, internalizadas em suas mentes devido ao ouvir e falar, atos práticos de comunicação cotidiana. Não se pode, no entanto, transformar a Linguística em casa de permissividade, dizendo que todo erro gramatical é por ela justificado como linguisticamente correto, pois os limites e normas gramaticais devem ser obedecidos, respeitados, ensinados, estudados e, por que não reformados de acordo com as próprias pesquisas lingüísticas longamente postergadas? Caso contrário estabelecer-se-ia o caos, a desordem, uma verdadeira Torre de Babel dos tempos modernos em que, cada qual, falando uma língua só sua, não se comunicaria com o outro, quer falando, escrevendo ou ouvindo.

A solução de problemas educacionais, não apenas de linguagem, passa pela instalação da educação integral, do reconhecimento do professor como profissional digno de melhores salários, do aluno como futuro renovador da nação, entre outros, uma vez que a educação, no Brasil, não é centrada em seus recursos humanos e sim no tijolo do pedreiro que constrói os prédios de universidades, mas não tem a oportunidade de adquirir os conhecimentos ali ensinados, abrigando-se das chuvas da vida.



Cristiano Júnior Balla – é escritor, professor, especialista em Literatura e Linguagem pela UENP/CP

Nenhum comentário:

Postar um comentário